segunda-feira, novembro 20, 2017

Abaixo da Linha D'água



Parte I. Olhar 
Dizem que o olhar é a porta de entrada da alma 
E quando não? 
Do coração é que fala a alma, 
E daquele olhar que revela outrora aquilo que não se sente, 
Ora encanta, ora apavora. 

Já o tempo, confidente da alma, 
Que de tanta constância separa o sim do não, 
Em segredo sabedor guarda e entende 
Do que o olhar sustenta o que chega do coração. 


Parte II. Reunião 
Naquele dia portas batiam, acordos aconteciam, despachos subiam, 
Corpos e sapatos em gestos altos e abruptos 
Ocupavam os corredores com seres velozes e frenéticos 
Por acordos afins e seus despachos. 

Enquanto na sala de reunião, 
Submersos, abaixo da linha d'água 
Mergulhados no invisível e no etéreo 
que nunca havia deixado de existir entre os homens 
turvos na profunda dimensão daquele instante, 
o silêncio encontrava a vontade: 
de que por trás daqueles olhos 
dois sorrisos ligeiros conduziam ao dado, 
o qual deveriam mesmo 
era estarem se comendo, na sala logo ali ao lado.

(Imagem: Marc Chagall, 1955)